Restauro Harpa Erard de 1815
Olá caros amigos apaixonados pelo mundo da luthieria e dos instrumentos musicais.
Sou o Luthier Paulo penteado, da Luthieria Mundo das Cordas Luthier BH e hoje vou falar sobre um restauro realizado em uma harpa Erard de 1815.
Vamos a história deste magnífico instrumento seu contexto histórico e conhecer também sobre Sebastian Erard o criador.
Sebastian Erard
Sébastien Érard nasceu em Estrasburgo, quando criança mostrou aptidão para a geometria e desenho, na oficina de seu pai, que era estofador.
Encontrou oportunidade para o exercício antecipado de sua engenhosidade mecânica.
Quando tinha 16 anos e com a perda de seu pai, se mudou para Paris, onde obteve um emprego num grande fabricante de cravos. Com uma habilidade construtiva notável, ele rapidamente percebeu o ciúme de seu mestre.
Antes dos 25 anos montou negócio próprio: a sua primeira oficina foi num quarto de hotel da duquesa de Villeroi, que lhe deu encorajamento.
Construiu um pianoforte pela primeira vez em 1777 na sua fábrica, mudando quinze anos mais tarde para Londres, na Great Marlborough Street, para escapar à Revolução Francesa.
A fama de luthier se espalha
A sua fama como luthier crescente e as diversas comissões para satisfazer os gostos de Luís XVI e de Maria Antonieta tinham-no colocado em risco.
Então quando, chegou a Paris em 1796, introduziu pianos de cauda, feitos à moda inglesa, com seus próprios aprimoramentos.
Em 1808 visitou novamente Londres, onde, dois anos depois, produziu a sua primeira harpa de duplo movimento.
Anteriormente, ele já tinha feito melhorias na fabricação de harpas, no entanto o novo instrumento foi um imenso avanço, e obteve tal reputação que após algum tempo dedicou-se exclusivamente ao seu fabrico.
Foi dito que, no ano seguinte à sua invenção Érard fez harpas no valor de 25.000 libras. Em 1812 voltou a Paris, e continuou a dedicar-se ao aperfeiçoamento dos dois instrumentos com que o seu nome está associado.
Em 1823 coroou o seu trabalho com a elaboração do seu modelo de piano de cauda com o escapamento duplo. Érard faleceu em Passy, Paris.
Agora vamos ao restauro
Em um dia normal de trabalho recebemos a ligação solicitando uma visita na residência de nossa cliente para o orçamento de um serviço em uma harpa de pedal.
Não saíamos da oficina para fazer orçamentos, porém ficamos muito interessados no caso, no entanto havia a dificuldade de se transportar a harpa.
o Luthier Paulo Penteado foi até o apartamento da Betânia, então viu aquele lindo instrumento na sala, e logo percebeu que se tratava de um instrumento musical antigo e raro.
Após uma longa conversa com a senhora Betânia o Luthier ficou realmente encantado e com muita cautela decidiu pesquisar mais a fundo e ver a possibilidade de realizar o restauro da harpa.
Uma das coisas que a proprietária nos contou é que a harpa esta na família já há muito tempo, e que ela a conseguiu com sua professora, Acácia Brasil, filha de Vital Brasil e a primeira harpista brasileira.
O defeito da Harpa
A senhora Betânia já não usava essa harpa há bastante tempo. Chegou a fazer algumas aulas e logo desistiu.
Consequentemente, o instrumento se tornou um enfeite em sua sala, no entanto sempre convidava uma harpista para tocar em seus eventos de família.
Com o passar do tempo a parte mecânica apresentou defeitos e assim ela ficou impossibilitada de ser usada e se tornou um objeto de enfeite.
No natal de 2019 a senhora Betânia recebeu os seus familiares em sua casa e um de seus netos se debruçou na harpa e ela caiu partindo por inteiro o pescoço, abrindo várias trincas, os pedais danificaram e as cordas restantes se partiram.
Então, foi ai que fomos solicitados a ver a possibilidade de resolver este grave problema.
Em primeiro lugar a proprietária disse que queria somente um reparo estético, no entanto meu interesse aumentava cada vez que observava aquele lindo instrumento.
Não prometi muita coisa, porém pedi para que eu a levasse até a oficina para um profundo estudo sobre o instrumento e depois passaria para ela o que de fato estaria a meu alcance realizar.
A pesquisa
Logo ao chegar na oficina começamos a avaliar todo o instrumento e começamos a buscar mais informações sobre o funcionamento de uma harpa de pedal.
Assim, buscamos fabricantes na Itália e França que nos ajudaram e foi ai que recebemos a informação de que esta harpa em questão era extremamente rara.
Finalmente, foram dois meses de pesquisas.
Imediatamente passamos a proprietária o que poderíamos fazer, após coletar várias informações, o Luthier Paulo Penteado propôs a proprietária não só a manutenção estética.
Enfim, o reparo mecânico, pedais, restaurar a harpa por inteiro em uma saga que durou oito meses.
Desmontando o monstro
Antes de tudo, com a autorização da dona da harpa começamos o desmonte da harpa.
Vocês não fazem ideia da quantidade de pequenas engrenagens, parafusos e pinos que uma harpa Erard tem.
Em seguida, tivemos que organizar cada grupo de peças em organizadores específicos para não enlouquecermos.
Mão na massa pra valer
Depois de uma semana somente desmontando toda a harpa iniciamos o restauro da parte estrutural.
Colamos o pescoço e foi necessário fazer enxertos de madeira em várias regiões, sempre respeitando a originalidade do instrumento.
Então, observei que no pé da harpa tinha um número de série amassado, logo paramos tudo e iniciamos uma nova pesquisa.
Após muito estudo em cima deste número, descobrimos que essa harpa era uma peça histórica de extrema importância.
O número apontava que esta harpa foi fabricada em 1815 e tinha como nome do modelo Luís 16.
Descobrimos também que a harpa foi antes de Acácia Brasil, da grande harpista espanhola Léa Bach.
Contudo é impossível saber o que aconteceu com esta harpa entre 1815 até 1903.
Mas foi então, nesta data que o instrumento chegou ao Brasil, quando Léa fugiu da Espanha, consolidando sua carreira no Brasil.
Léa só teve esta harpa até passar ela para Acácia Brasil, todas as apresentações feitas por ela foram neste instrumento.
Léa foi professora de Acácia e vendeu esta harpa para ela.
O fio da história começou a se formar com coerência.